"[...] Na istrada do disingano/andei de noite e de dia/inludido percurano/aprendê o qui num sabia [...]" (Elomar Figueira Melo. Desafio - Fragmento do quinto canto: Das violas da morte, do Auto da Catingueira)





terça-feira, 5 de junho de 2012

O vale tudo nas Eleições de Jequié ou o Rebaixamento Programático do Partido dos Trabalhadores

Artigo. 
*Joilson Bergher

Angústia, Decepção e perplexidade é o sentimento tomado conta da cidade de Jequié após o Partido dos Trabalhadores em Reunião partidária apontar na direção, composição e aliança política a um setor com longo histórico de direita, a nosso ver representante de todo o atraso econômico, social e político dessa cidade. Pragmatismo? Desradicalização? Pergunta-se: O Partido dos Trabalhadores  portanto, tem contas a prestar tanto à esquerda quanto à direita? Ou é um governo que se pretende de união nacional, um governo que pretende fazer divergências ideológicas intransponíveis coabitarem sob o guarda-chuva do poder? Recuperar politicamente figuras desgastadas da política onde o povo a sociedade não vê, não tem confiança? Ou no caso jequieense apenas se está constatando um fato: composição entre ideologias? E o que é esse  PP se não um partido de centro-direita tanto quanto o PSDB ou PMDB? Aliás, essa sigla PP, abriga entre outros, figuras non-gratas como Paulo Maluf e Jair Bolsonaro, esse, segundo a imprensa brasileira, tido como homofóbico e racista!  Com esse ou outros partidos conservadores na aliança que o sustenta, se excluirmos o Partido dos Trabalhadores num eventual governo em Jequié, que base seria a majoritária, por exemplo no parlamento Municipal: de direita, ou de centro-direita? É fato.

 Desde a chegada de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência, dentro do Partido dos Trabalhadores, a tomada de decisão politico-eleitoral não está mais circunscrita aos mecanismos participativo do filiado. Talvez esteja aí o fato do esvaziamento da famosa militância do Partido dos Trabalhadores: deixaram a cadeira cativa e vieram para a geral. A própria escolha da hoje Presidente do Brasil Dilma  Rouseff pelo Ex-presidente Luíz Inácio Lula da Silva indica esse descaminho, levando o Partido dos Trabalhadores a ser como mais um partido da ordem em curso. Como explicar tais alinhamento com o que mais há de atrasado na política brasileira? Republicanismo? Estratagemas Político-eleitoral? Junho de 2011, no Recife era lançada a Carta do Partido dos Trabalhadores Nordeste, sinalizando e selando exatamente a estratégia de vitórias eleitorais, pautadas no imediatismo, na política miúda. O velho protagonismo do Partido dos Trabalhadores fora trocado, esvaziado, aviltado, desqualificado, desprezado em favor de velhas (?) novas (?) oligarquias Brasil a fora.

Destaco que o que motiva a ação política do sujeito é aquilo que se conhece como consciência aliado à luta social e político empreendida em seu dia-a-dia. Mas, o que é mesmo o homem-sujeito-político? “Significa que ele pode interferir na história, através de sua ação ao nível político, isto é, definindo a orientação da sociedade da qual é integrante, participando – direta ou indiretamente - nas decisões essenciais relativas à vida e à morte dos membros desta sociedade. Portanto, é uma atividade lúcida, reflexiva e deliberativa, no dizer de Cornelius Castoriadis (1992), cujo objetivo é a instituição de uma sociedade autônoma, permitindo formar projetos coletivos para empreendimentos coletivos”. É no mundo grego, precisamente em Atenas, século V a. C, onde hoje o que se conhece como cidadão, á época estavam excluídos {os escravos, mulheres, crianças, imigrantes}, membros da Pólis Grega, usavam a sua liberdade para reverberar, ativar a vida em sociedade. A política se dava de fato num determinado espaço público. Todos falavam, todos ouviam. O direito a fala  estava garantido. Era o agir e falar em conjunto, no coletivo. Para Frei Beto, é árdua a militância no espectro da esquerda: “Um militante de esquerda pode perder tudo – liberdade, o emprego, a vida. Menos a moral. Ao desmoralizar-se, enxovalha a causa que defende e encarna”. (in: A Alma do Animal Político, Luiz Rogério Cosme). Então, preocupa-me o modo pelo qual se transmitem entre gerações os valores da esquerda. Há que se ter rigor na ética militante. A esquerda age por princípios. A direita, por interesses. Se engajam visando, em primeiro lugar, sua ascensão ao poder. Em nome de uma causa coletiva, busca primeiro seu interesse pessoal. Ao resto? As sobras! É importante verificar se você é mesmo de esquerda.

Adote o critério de Norberto Bobbio: a direita considera a desigualdade social tão natural quanto a diferença entre o dia e a noite. A esquerda a encara como uma aberração a ser erradicada.  Cuidado: você pode estar contaminado pelo vírus social-democrata, cujos principais sintomas são usar métodos de direita para obter conquistas de esquerda e, em caso de conflito, desagradar aos pequenos para não ficar mal com os grandes. O desafio colocado novamente ao Partido dos Trabalhadores: Alimentar-se na tradição da esquerda. “Retornar às fontes” para manter acesa a mística da militância. Conhecer a história da esquerda, ler (auto) biografias, como o "Diário do Che na Bolívia", e romances como "A Mãe", de Gorki, ou "As Vinhas de Ira", de Steinbec, Política, de Leon Trotsky ou ainda a Era dos Extremos, de Eric Hobsbawn. O quadro em que o Partido do Trabalhadores na Bahia se encontra é de crise sim. Há uma profunda frustração de setores da esquerda com a atuação do Governo Jacques Wagner, em torno de quem a esquerda se uniu  de forma a barrar a eleição de político símbolos da direita carcomida brasileira em sua graduação maior de reacionarismo, aqui na Bahia, o Carlismo, de saudosa memória, principalmente a esses recuperados pelo Partido dos Trabalhadores. Cobrando coerência, Otávio Assis, professor da UNEB e ex-candidato a prefeito de Jequié pelo PT, no dia 28 de maio, 2012, deu a seguinte declaração no Blog GicultVenho, publicamente, declarar que me postando ao lado do amigo e companheiro de partido, o ex-vereador Reges Silva, opto pelo afastamento da participação político-partidária nas eleições de 2012 em nossa amada Jequié. O meu gesto é, a um só tempo, de solidariedade a Reges Silva que talvez tenha sido o melhor vereador da história de Jequié, como também um ato de consciência frente aos rumos que o Partido dos Trabalhadores tomou em nosso município. A decisão tomada pelo partido em Jequié está em sentido contrário ao que penso e aos princípios que defendo. Não se trata de radicalização máxima no que se refere às alianças, o problema está em como se fazem tais alianças, com quem são feitas e que interesses, de fato, guardam”. Tal gesto do militante do Partido dos Trabalhadores  de Jequié, Otávio de Assis, revela exatamente a vitória do individualismo letárgico em torno do Partido dos Trabalhadores? Certamente esse gesto do Petista Otávio Assis, será acompanhados por outros militantes do Partido dos Trabalhadores. Seria essa tal aliança o reflexo da fragmentação da esquerda que entra para a disputa, sem chance real de vitória nas eleições de Jequié? Estaria então o partido virado de costas aos interesses da classe trabalhadora, do povo pobre o sofrido que votou em Lula para mudar o Brasil para ver as mudanças que o Brasil necessita para enfim acumular de forcas necessárias para a conquista de um governo da classe trabalhadora, de um Estado socialista? Para isto teria que enfrentar os interesses do grande capital, das oligarquias, dos latifúndio. O Partido dos Trabalhadores prefere  se aliar a estes, ao invés de lutar para derrotá-los. O PT, está, portanto, de costas para o futuro?  (Re) Pensar o fazer política hoje é sim (re) tirar o homem contemporâneo do seu isolamento existencial e político imposto pela cultura do capital alienante e mercadológico. Tal modelo representativo de mundo fragmentado – tem-se mostrado insuficiente e ineficiente para produzir inclusive o fortalecimento e participação na vida política. Penso que estamos diante de um momento histórico.  É a consolidação desse processo de transformação do Partido dos Trabalhadores. É verdade que todo partido tem direito de mudar, o trabalhismo inglês, por exemplo, início dos anos 2000, transformou-se de um Partido Social-Democrata em um Partido neo-liberal. Mas o fez em Congresso, e antes é bom que se diga, das eleições.

Não se trata de ser radical, ao contrário, há muitos companheiras e companheiros honestos e sérios em suas convicções de luta socialista aqui dispostos ainda a seguir levantando estas bandeiras no Partido dos Trabalhadores. Sabemos, inclusive, que muitos ainda acham que ainda há espaço político para disputa dentro do Partido dos Trabalhadores.  Mas temos a certeza de que aqueles que não se renderem, os que não se deixarem cooptar, que não aceitarem entregar as bandeiras de luta da classe trabalhadora e do socialismo, junto ao povo pobre, junto à juventude deste país, continuarão defendendo as bandeiras que durante muitos anos foram patrimônio do Partido dos Trabalhadores. Em tempo: em época em que a categoria política não da a devida importância à sua imagem-marketing, não se respeita, aliado a tanta corrupção, traição ao eleitorado...por ora estimulado pelas eleições que se avizinha quero chamar a atenção do eleitorado de Jequié aos compromissos que cada cidadão tem para o futuro dessa terra devastada nos últimos anos por acúmulos de problemas e distorções e desmandos administrativos lançados a quem se propõe a administrá-la: há um desafio gigantesco. Já passou da hora de o eleitorado de Jequié cobrar desses candidatos debates públicos, por exemplo, sobre a vida pregressa de cada um desses pretensos candidatos a sua informação e formação sobre a grandeza dessa cidade para bem governá-la, a fim de descartar os ambiciosos de plantão. Concluo afirmando que o Trabalho da história em torno do Partido dos Trabalhadores ainda não terminou ou estaremos atentos como expectadores para algo que deveríamos fazer como protagonista de uma esquerda propositiva e participativa.

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Joilson Bergher, jbergher@hotmail.com  - Militante do Partido dos Trabalhadores / Jequié, professor de História, Especialista em Metodologia do Conhecimento Superior, Pesquisador Independente do negro no Brasil, Estudante do Curso de Filosofia, Uesb – Vitória da Conquista



















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