"[...] Na istrada do disingano/andei de noite e de dia/inludido percurano/aprendê o qui num sabia [...]" (Elomar Figueira Melo. Desafio - Fragmento do quinto canto: Das violas da morte, do Auto da Catingueira)





domingo, 12 de junho de 2011

O reinado das mulheres, por Nelson de Sá

NELSON DE SÁ

A tomada do palácio

Até mais que a metáfora de peixes e tubarões, na troca de cargos por Ideli Salvatti, não faltaram piadas sobre a tomada do palácio pelas mulheres. Antes mesmo da escolha para as Relações Institucionais, com a nomeação de Gleisi Hoffmann para a Casa Civil, já se anunciava, no exterior inclusive, que agora "as mulheres mandam no palácio". E não seriam seres frágeis, gentis, mas mulheres de ferro.
Marketing, reagiu um homem. Politicamente correto, resmungou outro. Entre as expressões amontoadas, a melhor foi guerra dos sexos. Na revolta por cargos, ao longo do primeiro semestre, parlamentares petistas e peemedebistas concentraram-se aos poucos em seus líderes naturais, todos homens, de rostos ansiosos. O que fazer do semblante dos chefes da federação petista? Ou dos senhores feudais peemedebistas? Mais que eles, o que fazer do agora figurante Lula?
Encerrada a campanha, o marqueteiro João Santana, como um diretor que distribui papéis, vislumbrou para a primeira presidente a "cadeira da rainha" no imaginário brasileiro, vago desde a princesa Isabel, que assinou a libertação dos escravos. Mas Dilma Rousseff não é uma despachante. Acomoda-se bem com os homens, como aconteceu com os peemedebistas no setor de energia ou com os desenvolvimentistas na equipe econômica, desde que não tentem se impor a ela.
Há duas semanas, um colunista conservador escrevia no "Wall Street Journal" sobre a vantagem oculta, porque não expressa em círculos republicanos, de Obama, o presidente negro. Mas ele não é inabalável. O veredito só vem na eleição de 2012, mas uma pesquisa já mostrou que ainda "é a economia, estúpido". O pouco que a economia reage, por lá, não resulta em empregos e o excepcionalismo americano simbolizado pelo presidente pode não bastar.
Vale para os eleitores e para os parlamentares, que os refletem, de um jeito ou de outro. Pode-se argumentar, mas o que levou à queda de Fernando Collor e à derrota de Fernando Henrique na sucessão, assim como às vitórias de Lula pós-mensalão, foi a economia.
Observadores externos, diante da semana no Brasil, se aferram à inflação, não aos humores de Marco Maia, de José Dirceu, de Michel Temer ou de Renan Calheiros. O risco está em perder a austeridade fiscal, cedendo demais às suas demandas.
Com a tomada do palácio, Dilma avança uma narrativa própria, ainda oculta ou tratada anedoticamente, e expõe um conflito real, difícil de negar até no país do "homem cordial". É expressivo o silêncio aprovador das mulheres no Congresso, diante de suas decisões, enquanto os homens se debatem atônitos.
Mas é na economia, tão dependente das pressões externas, que se dá o embate maior -e de onde sairá, afinal, o veredito da primeira presidente.

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