"[...] Na istrada do disingano/andei de noite e de dia/inludido percurano/aprendê o qui num sabia [...]" (Elomar Figueira Melo. Desafio - Fragmento do quinto canto: Das violas da morte, do Auto da Catingueira)





sábado, 28 de maio de 2011

Meninos, eu vi…

Por José Ilan, reporter esportivo da Globo.
Eu estava lá.
A 50 metros da bola, carinhosamente ajeitada por Petkovic aos 43 minutos do segundo tempo, em 27 de Maio de 2001.
Uma hora antes, na conversa de intervalo entre os repórteres à beira do campo, me lembro do papo com Eric Faria, que me disse: “esse gol do Vasco complica demais a vida do Flamengo”.
De fato, após o empate no finzinho do primeiro tempo, o rubro-negro dependia de mais dois no segundo para conquistar o tricampeonato. O gol de Edilson, ainda nos primeiros minutos, reabriu o suspense, que durou até a fatídica falta na intermediária.
O lance era do lado esquerdo das cabines de rádio, com a torcida do Flamengo atrás do gol de Hélton. Eu estava do outro lado, junto à lateral, próximo ao banco do Vasco. Microfone em punho, prestes a gravar uma passagem – momento que o repórter aparece na reportagem de TV. Minha pauta para o Globo Esporte era mostrar o comportamento dos técnicos durante a decisão. Obviamente, faltando menos de três minutos para acabar, já me posicionava com Joel Santana ao fundo.
Quando vi o gringo ajeitar a bola, parei. Falei com o cinegrafista: “peraí, vamos esperar essa falta aí…”
Botei o braço sobre a cobertura de acrílico que protegia o banco onde estavam Joel e os reservas. Olhei lá para o outro lado, para o outro banco. De lá, Eric também olhou pra cá, na minha direção. Levantamos sobrancelhas e franzimos a testa ao mesmo tempo, como que perguntando em silêncio: “será?!…”
Segundos depois, lembro da longa e histórica viagem da bola em curva. E não sei explicar como, mas ela já parecia com endereço certo muito antes de roçar os dedos de Hélton e chegar ao gol.
Na visão em diagonal, reservas do Flamengo pulam do banco, dão cambalhotas, quase invadem o campo e se atiram sobre o herói, que ficou invisível sob o amontoado de companheiros.
Todos os vascaínos da barreira se viram quase ao mesmo tempo, depois de olharem a bola entrar. A expressão é da mais expressiva incredulidade.
E eu? No meio da loucura em que se trasformou o ambiente, nem deu tempo de refazer o texto, mudar tudo com o jogo terminando. Usei uma passagem neutra, feita no começo do jogo.
Tão logo Léo Feldman apitou o fim, fui me acotovelar com os colegas para ouvir as palavras emocionadas e emocionantes do Velho Lobo Zagallo.
Todos nós, rodeados por milhares de rubro-negros, que naquele domingo redefiniram o sentido de catarse coletiva.
Meninos, eu vi. E não vou esquecer.

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