por Rodrigo Vianna, no Escrevinhador.
Dia desses eu caminhava pelos corredores da USP (distraído, mas sem pisar os astros), quando um rapaz se aproximou com um panfleto: “o senhor já sabe em quem votar pro DCE?”. Duas coisas me chamaram atenção: o tratamento formal (“senhor”, eu?) e o nome da chapa em que ele pedia o voto – “Reação”.
Afastado há duas décadas da universidade, iniciei há pouco um curso de Mestrado na FFLCH – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Pouco sei sobre as atuais disputas políticas na USP. Um colega mais jovem socorreu-me: “essa aí é a chapa da direita”.
Na minha época, a chapa da “direita” em geral era a chapa do partidão (agrupamento, aliás, do qual eu era próximo – como já contei aqui). Mas agora a direita é a direita mesmo, contou-me o jovem colega do Mestrado.
Além da “Reação” (voltaremos a ela logo adiante), havia mais quatro chapas -todas de esquerda, com suas várias facções… Meu velho DNA do partidão fez-se presente. A partir daquele momento, eu precisava saber qual das 4 chapas tinha mais chance de ”derrotar a direita”. Voto útil!!!
Sinal dos tempos, a chapa de esquerda mais forte não era aquela que reunia PT-PCdoB. Mas uma outra, com integrantes do PSOL e do PSTU. Votei nessa, pra derrotar a direita.
Dias depois, num churrasco de blogueiros sujos, meu colega Renato Rovai informou-me que um dos articuladores e divulgadores da tal chapa “Reação” era aquele blogueiro da “Veja”, a quem o Leandro Fortes já chamou de “Exu” (numa clara ofensa – registre-se – à entidade religiosa, que não merece ser comparada ao tipo bilioso da “Veja”).
Ou seja: a revista dos Civita perde até eleição pro DCE!
Na USP, o blogueiro da “Veja” perdeu pro PSTU e pra esquerda do PSOL. Vai ganhar de quem?
O Rovai resumiu bem a história: o blogueiro da “Veja” ainda é jovem (deve estar só com uns 50 anos, portanto na idade ideal pra envolver-se em campanhas estudantis!), tem tempo ainda para aprender com a derrota. E o Rovai concluiu: não sei o que é pior pra “Veja” – perder a eleição para o DCE da USP ou ver o que está acontecendo com a dupla Demóstenes Torres e Policarpo Jr.
Mas não é só a “Veja” que precisa entender melhor o que se passa… O resultado final da apuração mostrou que a chapa apoiada por correntes do PT e PCdoB recebeu 2% dos votos!!! Isso mesmo: 2%.
Ou seja: na USP, o PT e o PCdoB estão bem pior do que a “Veja”. Com a militância envelhecida e – até certo ponto – amortecida pelo burocratismo, PT e PCdoB terão sérias dificuldades em falar pra geração que chega agora à universidade.
OK. A USP não é representativa de toda a diversidade brasileira. Mas a eleição devia servir como (mais um) sinal de alerta. O PT envelheceu. Não vai ganhar mais eleição falando só que “os tucanos privatizam” ou que “Lula tirou milhões de brasileiros da miséria”.
Isso já não basta. A turma da USP quer mais que isso. E a galera das periferias também.
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