"[...] Na istrada do disingano/andei de noite e de dia/inludido percurano/aprendê o qui num sabia [...]" (Elomar Figueira Melo. Desafio - Fragmento do quinto canto: Das violas da morte, do Auto da Catingueira)





quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Artigo do professor Joilson Bergher

Eleições 2012 – O prefeito de Brumado joga toda a oposição (?)  contra si

*Joilson Bergher

Sábado, 15 de outubro, 2011, fui convidado a apreciar a Conferência Municipal do PcdoB de Brumado. Até aí, nada de mais. Lá encontrei alguns bons amigos, principalmente no campo da política. Era uma plateia de militantes aparentemente comunistas, sem terra, estudantes, professores, servidores do Estado e do município, pessoas comuns da cidade e de cidades vizinhas...e políticos de todas as cores. É a  política no Brasil que tem se notabilizado por uma mistura de idealismo e aventuras eleitoral que até mesmo o mais incrédulo do cidadão acabaria por não acreditar exatamente o que se vive e se faz dessa mesma política. Veja: não consigo deixar de pensar no PT/governo de hoje com o PT/oposição de ontem, da minha adolescência, do meu tempo de esquerdista. É, crianças, já fui bem mais idiota do que sou hoje. Me lembro, por exemplo, do discurso, não só do PT, mas de outras coisas também chamadas esquerdistas, como o MDB, que era o PMDB despiorado, de Tancredo, Teotônio e Ulysses, em que se dizia que o Estado era muito intrometido na vida do cidadão, que não cabia a ele, o Estado, decidir os gostos e vontades do homem, que só cabia a ele dar condições para que o sujeito sob sua tutela, decidisse os rumos a tomar.
 Pode parecer absurdo escrever isso, mas o que era de esquerda no passado, hoje, é a coisa mais natural que se possa efetuar: eis o pragmatismo colocado a toda prova. Os fatos: Vanderlito Souza, empresário, segundo, comenta-se, bem sucedido, é  a nova estrela dos vermelhos do PC do B de Brumado. Eu estava atento aos discursos. O prefeiturável não tem a mínima noção teórica do socialismo, talvez sequer tivesse ouvido falar de Marx, Trostki, Rosa de Luxemburgo, Lenin, Gramsci, Apolônio de Carvalho, Florestan Fernandes, Stálin... orçamento participativo. Querem mais? Não ouvi nos pronunciamentos a defesa do socialismo enquanto estrategia propositiva contra a barbárie capitalista, aprisionador do  ser humano e por que não dizer, desumano? Discursaram os deputados Daniel Almeida, Jean Fabrício, o sub-secretário e professor da Uesb, Elias Dourado, o presidente do PcdoB de Brumado, Édio Continha,  Deputado João Bomfim, o ex-vice-governador do Estado, Edmundo Pereira Santos, hoje no Partido dos Trabalhadores, o deputado por Minas gerais, Newton Cardoso e outras personalidades...e, nada, nada, nadinha de socialismo. No passado, Leonel Brizola, um dos ícones do esquerdismo nacional, até criou o tal “socialismo moreno” como forma de justificar o novo discurso, tão diferente da prática esquerdista soviética, chinesa ou albanesa, sem falar em Cuba e todos os outros. Brizola mostrava um discurso liberal, da livre iniciativa (provavelmente por perceber que o modelo soviético era inaplicável por essas bandas sub-equatorianas, talvez porque a tinta da democracia ainda estava fresca e ele não quisesse despertar a fúria dos milicos que ainda hesitavam em voltar à caserna). Concretamente foi um grande evento onde se viu a possibilidade teórica daqueles que historicamente estiveram na oposição e os 'novos' que por uma razão ou outra, para não dizer,de conveniência, marcham rumo à prefeitura da de Brumado. E o prefeito de Brumado? Este, está órfão, pelo menos aparentemente. Parece-me que a debandada de políticos que ora caminhava sob o comando pesado da mão de ferro do prefeito, revelou exatamente uma das características mais marcantes do atual governo: desagregação social, territorial e classista. Contrariando a obrigação primordial de qualquer governo, a de defender, promover e fortalecer a unidade de seus assessores (também os chefes), interlocutores, deputados, vereadores...não perderam a oportunidade de impulsionar a separação...e cairam ou estão caindo fora da guarda do executivo municipal. O resto é blá, blá, blá, bla. Quando a esquerda, já livre da mira dos fuzis, começou a eleger-se para o legislativo, passou a pregar, entre outras liberalidades, o orçamento participativo. Você deve lembrar, caro leitores, de como a esquerda reclamava das políticas impostas de cima para baixo, de como exigia que o cidadão participasse mais efetivamente e tivesse sua voz ouvida.  Lembra? Eu lembro. Aí a gente vai ficando velha, os questionamentos começam a responder-se e darem espaço a novos questionamentos, respostas até sem pergunta vão aparecendo, o que era aceitado pelo cérebro desde que entrasse pelo ouvido já não fazia tanto sentido sem a compreensão histórica e a busca profunda de razões. A história passava a ser percebida melhor depois de passada e vivida. É isso aí, vive-se uma época de pragmatismo, principalmente na política. Mas rezemos forte, escolha seu santo e boa sorte.
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Joilson Bergher. Professor de História, Especialista em Metodologia do Ensino Superior/ Uesb. Pesquisador independente do Negro no Brasil, Graduando em Filosofia/Uesb

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