"[...] Na istrada do disingano/andei de noite e de dia/inludido percurano/aprendê o qui num sabia [...]" (Elomar Figueira Melo. Desafio - Fragmento do quinto canto: Das violas da morte, do Auto da Catingueira)





terça-feira, 19 de julho de 2011

Lula perde com ataques a imprensa

Do Balaio do Kotscho
Desconheço os motivos que levaram meu velho amigo Lula a subir o tom dos seus discursos em encontros com estudantes e sindicalistas esta semana. Como ele tem viajado muito e sua agenda anda carregada, faz algumas semanas que não conversamos.
Ao anunciar, rufando os tambores, que vai voltar a viajar pelo Brasil, apenas seis meses após deixar a Presidência da República, para defender seus projetos de inclusão social contra a ação de inimigos reais ou imaginários, Lula exerce seus direitos de cidadão e maior líder político do país. Precisa saber, porém, se o momento político é oportuno para esta volta antecipada.

Desde que surgiu no cenário político nacional como líder do novo sindicalismo do ABC, no final dos anos 1970, Lula sempre alternou a tática da negociação com a estratégia do confronto, na base do "nós contra eles".
No começo, "eles" eram os donos do capital e os militares da ditadura. Após a redemocratização, assumiram o papel de "outro lado" os candidatos dos partidos que concorriam com o PT. Com a progressiva fragilização da oposição partidária no país, desde o segundo mandato de Lula, e até hoje, quem assumiu o papel de "eles" foi a velha mídia, até por iniciativa da própria.
Resta saber quem ganha com isso. A imprensa, não é, claro, como mostra a encruzilhada em que se encontram tradicionais empresas do ramo com a constante queda de circulação e audiência dos seus produtos jornalísticos, diante da concorrência das novas mídias eletrônicas.
Com seus constantes e cada vez mais irados ataques à imprensa, Lula, por sua vez, só dá mais munição para os porta-vozes do bloco mais reacionário da decadente imprensa tucana, que vivem acenando com os fantasmas do "controle social da mídia" e da "volta da censura" como se estivessem torcendo por isso.
Confesso a vocês que não consigo entender, muito menos explicar esta nova ofensiva do ex-presidente contra a mídia. Lula é um cabra vencedor, como se diz lá na terra onde nasceu, um líder político respeitado no mundo todo, deixou o governo como o mais popular presidente da história, é aplaudido e abraçado por onde passa, o que quer mais?
Agindo desta forma, Lula acaba também não ajudando a presidente Dilma, que passa por um momento de sérias dificuldades, em várias áreas do governo, e estava tentando melhorar seu relacionamento com os donos da grande mídia, que a vinham tratando até muito bem antes da crise Palocci.
Claro que seus editores de confiança, colunistas e blogueiros não vão sossegar o rabo enquanto não conseguirem destruir o que chamam de "mito Lula", jogando criador contra criatura, inflando uma crise atrás da outra, atiçando a oposição a reassumir seu papel de oposição, que a imprensa se viu obrigada a desempenhar, segundo a ANJ.
Cada vez que se sentem atacados, no entanto, mais agressivos eles se tornam, mais motivados a fazer novas denúncias reais ou imaginárias, a criar um permanente clima de crise do fim do mundo no país. A meu ver, só Lula perde com isso, arriscando a sua própria imagem aqui dentro e lá fora.
Melhor faria Lula se deixasse de se importar tanto com "eles" e dedicasse mais algum tempo a fazer palestras e reflexões sobre seu período de presidente, deixando o terreno livre para Dilma fixar uma identidade própria do novo governo. 

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