"[...] Na istrada do disingano/andei de noite e de dia/inludido percurano/aprendê o qui num sabia [...]" (Elomar Figueira Melo. Desafio - Fragmento do quinto canto: Das violas da morte, do Auto da Catingueira)





segunda-feira, 11 de julho de 2011

Marina e o PV: divórcio consumado

por Rodrigo Vianna, no Escrevinhador.
Não estou entre os que se encantaram com a “novidade” representada por Marina Silva na eleição de 2010. Humildemente, acho que ela ajudou os tucanos a levar eleição ao segundo turno, e ainda colaborou para consolidar a agenda conservadora “anti-aborto” que tomou conta da campanha eleitoral.
Mas é preciso ficar atento aos movimentos de Marina. O papel que ela cumprirá daqui pra frente não precisa, necessariamente, ser o mesmo. Há um cansaço generalizado com a democracia representativa – não no Brasil, mas no mundo.
Um mal-estar, com a sensação de que os partidos não representam mais a vontade popular. As rebeliões (recuso-me a falar em “revolução”) no Egito, Argélia e Espanha foram feitas “por fora” dos partidos e das organizações tradicionais.
No Brasil, esse movimento aparece, de forma tímida, na rebelião dos bombeiros do Rio, no movimento ”antiMicarla” de Natal (RN), na revolta dos trabalhadores da Usina de Jirau (agradeço ao internauleitor que me corrigiu, eu havia confundido com Belo Monte). E, apesar do crescimento econômico, há um mal-estar entre o que restou da esquerda, por conta do início do governo Dilma. 
Marina Silva pode surfar nessa onda. Com qual programa? O liberal-ecologismo de Gabeira? Ou algo mais consistente e renovador?
A conferir.
Confira os detalhes da saída de Marina, em reportagem do Portal Vermelho.
Um ato público na tarde desta quinta-feira (7) marcou a saída do PV da ex-presidenciável Marina Silva e de seus principais colaboradores na campanha de 2010, após desentendimentos com líderes da legenda. Batizado de “Encontro por uma nova Política”, o evento ocorreu no auditório do Espaço Crisantempo, na Vila Madalena, em São Paulo.
“Muitos sairão do PV comigo, e alguns ficarão criticamente. Mas não é o momento para ficarmos tristes”, disse Marina. “É o momento de ficarmos tristes e alegres. Para ficarmos tristes, basta ver os casos que estão pipocando por aí. Para ficarmos alegres, basta ver o Brasil de fora da política, que está se formando, uma nova argamassa.”
Segundo a ex-presidenciável, o “foco” de seu movimento é “transformar esses brasileiros e brasileiras que estão sendo condenados pelos partidos a serem meros espectadores. Vamos discutir democracia, educação e desenvolvimento sem as amarras do poder — e não se trata de negar as instituições do estado e o sistema representativo. Mas não podemos fechar os olhos para seus desvios. Que saiam de suas velhas práticas e acordem para o presente”.
Marina negou que sua movimentação mire as eleições presidenciais de 2014. “Quando me perguntam, eu digo: ‘Não sei’. Não ficarei da cadeira cativa de candidata”, afirmou. “Não podemos ficar na armadilha do ‘novidadismo’. Temos de metabolizar as coisas e transformar o que precisa ser transformado”, acrescentou. “Não é hora de ser pragmático. É hora de ser ‘sonhático’.”
No ato, o ex-deputado Fernando Gabeira (RJ) e o deputado federal Alfredo Sirkis (RJ) criticaram os rumos do PV e defenderam a criação de um novo partido, em data ainda não definida, e a criação de um movimento suprapartidário. Sirkis anunciou sua saída da legenda e Gabeira demonstrou apoio à causa de Marina.
A crise
Nós últimos meses, o grupo de Marina vinha travando uma guerra interna com os aliados do presidente do PV, deputado federal José Luiz Penna, pela democratização interna da sigla. Desgastada após tentar, sem sucesso, mudar a direção nacional do partido, Marina se desfiliou contrariando a opinião de aliados próximos, como o próprio Sirkis — que ainda considerava ser possível alterar a estrutura partidária.
Embora Marina tenha saído das urnas com quase 20 milhões de votos e ajudado a eleger 14 deputados federais, poucos deles devem acompanhar a ex-presidenciável. O principal motivo é o calendário eleitoral de 2012. Pelo fato de terem sido eleitos pelo PV em 2010, eles não se sentem seguros para deixar o partido sem ameaças de perda de mandato.
Além de Marina e Sirkis, também se desfiliaram o empresário Guilherme Leal, o ex-candidato ao Senado por São Paulo Ricardo Young e o ex-presidente do diretório do PV paulista Maurício Brusadin. Ao perder também visibilidade e capilaridade política, o PV fica com a imagem arranhada por não ter sido capaz de coordenar uma crise interna nem aceitar mudanças propostas pelo grupo Transição Democrática.
Marina também perde. Sai do partido para criar o Movimento Verde de Cidadania, nome provisório da entidade civil que será base para uma possível legenda a ser criada após as eleições de 2012 — uma espécie de pré-partido. Ainda que permaneça discutindo temas ambientais, a ex-senadora fica sem nenhuma garantia de que conseguirá manter seu capital político até a disputa presidencial de 2014.

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