"[...] Na istrada do disingano/andei de noite e de dia/inludido percurano/aprendê o qui num sabia [...]" (Elomar Figueira Melo. Desafio - Fragmento do quinto canto: Das violas da morte, do Auto da Catingueira)





terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Ano difícil à frente

Por Emerson Gonçalves, do Blog Olhar Crônico Esportivo.
As notícias e informações sussurradas em corredores e bastidores não são das mais alvissareiras. Parece que por toda parte, de norte a sul, 2011 será um ano de muitas dificuldades.
Competições duras com adversários temíveis?
Não, não, não, a coisa anda feia mesmo é fora do gramado, especificamente naquelas caixas metálicas, umas grandes, outras pequenas, chamadas de cofres. Ou de burras, embora essas sejam, por tradição, ligadas ao popular Tesouro Nacional. Que de popular tem só a adjetivação, até porque seus recursos sempre seguem caminhos que de populares pouco ou nada têm. E quando têm a ver, também têm a ver com demagogia.
Essa, porém, é outra história e voltemos às burras dos tesouros de nossos clubes, com um pequeno desvio (não resisto à tentação): as burras do Tesouro Nacional dessa república tapuia ficarão 2 bilhões de reais mais pobres. Esse valor, para usarmos a moeda em voga no futebol, equivale a, praticamente, 900 milhões de euros. Ah, vamos lá, vai: 1 bilhão de euros, já que certos gastos sempre aumentam, jamais diminuem. Sabem para que servirá esse bilhão de euros? Para o aumento que os nobres parlamentares deram a si próprios e o efeito dominó que virá na sequência. Agora podemos dizer com orgulho que, além de sermos a “terra do futebol”, somos também a terra dos mais bem pagos parlamentares do planeta, deixando para trás naçõezinhas como Japão e Estados Unidos e até a poderosa Confederação Europeia. Pronto, aí está. Para quem reclama que eu nunca elogio o Brasil…
Burras vazias nos clubes
Mas, falando em fubebol, finalmente, de maneira geral as despesas dos clubes cresceram, as receitas aumentaram, é verdade, mas as dívidas aumentaram mais ainda que as receitas. Vencedores e perdedores estão na mesma canoa e, pior, descobrindo que ela é furada. A água tem que ser tirada para a canoa não afundar, cada vez mais depressa, pois o buraco aumenta à medida que passa o tempo.
Essa é a síntese do que foi o ano de 2010.
Teremos uma visão melhor, talvez até mais terrível, com a publicação dos balanços desse ano que ora finda. Confesso-me ansioso desde já à espera de abril, quando a safra de resultados virá à luz.
As receitas de TV foram adiantadas até o limite do possível. A maior parte, para não dizer a totalidade dessas receitas, não foi propriamente adiantada e sim comprometida. É assim: o clube vai a um banco e pega um empréstimo, dando como garantia a receita de direitos de transmissão de TV de 2011, de 2012, de 2013… Dizem, mas não tenho confirmação, que os grandes paulistas, ao menos alguns, já comprometeram até as receitas de 2014 do campeonato estadual. Ora, se a receita projetada para 2012, digamos, era de 10 milhões, o empréstimo líquido já foi abaixo disso, bem abaixo, incorporando juros futuros e outras coisinhas mais. Nem quero imaginar quanto terá entrado líquido no caixa referente à temporada de 2013 ou 2014. Mas, repito, não consegui confirmar que até mesmo essas temporadas foram “antecipadas”.
No caso das receitas de TV do Campeonato Brasileiro o que tinha para ser antecipado já foi e a data-limite foi 2011, pois será em 31 de dezembro do próximo ano que termina a vigência do atual contrato de cessão de direitos. Nenhum banco vai emprestar dinheiro tendo como garantia um contrato que não existe, que ainda será assinado. Essa é uma das razões que explica o tititi em torno do próximo contrato de TV do Campeonato Brasileiro, cuja negociação terá início pelo Clube dos 13 logo depois que começar o ano para valer nessa Terra de Vera Cruz (ou seja, na segunda-feira seguinte à Quarta-feira de Cinzas). É a ânsia por dinheiro “novo” que já domina presidentes e diretores de clubes, de norte a sul desse varonil Brasil que amanhece hoje sob um belo ceu de anil.
Esse post é chato e ausente de números, exceção feita a alguns números referentes ao Corinthians, o único clube que apresenta seus números financeiros com alguma regularidade durante o ano. Independentemente dos balancetes, o presidente Andrés Sanches disse nessa última sexta-feira, em entrevista à Rádio Jovem Pan, que as despesas aumentaram muito em 2010 e os gastos com o centenário foram grandes, o que já era perceptível com facilidade. Segundo o presidente, a folha do clube chegou aos sete milhões de reais, valor que passado assim, isoladamente, impressiona, mas não tanto quanto o que ele significa ao fim de doze meses: 84 milhões de reais. Mesmo com o crescimento dos valores de patrocínios, que chegaram à marca de 54 milhões de reais, e aos excelentes números de bilheteria, com receita superior a 30 milhões de reais, pouco mais da metade dos quais somente no Brasileiro, a dívida do clube cresceu um bocado. Pelos resultados parciais, até outubro ela era de 126 milhões milhões de reais. A dívida bancária atingia 54 milhões, um valor bastante elevado e em boa parte, ou até mesmo na totalidade, referente a antecipações de direitos de TV.
Num quadro desses, ninguém tem dinheiro para fazer contratações e ficam todos esperando a chegada de algum mecenas ou uma parceria milagrosa. Como se, nessa área, milagres existissem…
Os mecenas disponíveis no mercado até gastam, ou melhor, investem seu rico dinheirinho em jogadores, desde que com a contrapartida garantida por fatias cada vez maiores dos direitos econômicos de jovens promessas. Isso explica porque, ao sair de um clube para o exterior, um jovem valor deixa nos cofres de quem o formou e revelou meros 20, 30, 40% dos direitos econômicos negociados. Torcedores jogam a culpa sobre os empresários, quero dizer, mecenas, mas deveriam centrar o fogo de sua artilharia sobre os dirigentes.
As contas são vermelhas por toda parte, não somente entre os quatro grandes paulistas.
O novo presidente colorado enfrentará um ano complicado, ainda mais com a derrota para o Mazembe. Segundo revelado pela Folha, executivos do banco que patrocina vários clubes, entre eles o Cruzeiro, revelaram que o presidente Perrella negociou um empréstimo para pagar salários e que vários jogadores estariam reclamando dos atrasos no pagamento de seus direitos de imagem. O Palmeiras negociou um novo acordo com a Adidas e recebeu luvas no valor de 13 milhões de reais, dinheiro que foi prontamente usado para acertar salários atrasados, alguns já há três meses. Ainda nessa semana, Kleber foi curto e direto ao criticar a vinda de reforços de peso (leia-se Ronaldinho), havendo salários e direitos de imagem de parte do elenco atrasados. No São Paulo, hoje, conta-se mais com a receita de shows no Morumbi (de música, de música, já que de futebol…) do que por resultados financeiros trazidos pelo time, o que não tem impedido que diretores diversos prometam até mesmo o famoso meia. Haja Pauls e U-2s para tantas promessas. Nem mesmo o Santos escapa ao fatiamento compulsório: Arouca e Neymar, esse mais uma vez, foram a bola da vez, embora o parceiro envolvido, a Terceira Estrela, pareça ser mesmo um parceiro, sem ironia. Entretanto, como falamos de futebol e muito dinheiro, nada como aguardar para ter certeza.
Apesar dos valores crescentes das dívidas, todos falam em reforços, todos falam em
Apesar dos valores crescentes das dívidas, todos falam em reforços, todos falam em investir. Algumas dessas promessas, talvez a maioria, não serão cumpridas, o que será um alívio e uma bênção para os clubes. Outras, porém, serão cumpridas e a conta ficará mais e mais gorda, mais e mais difícil de ser paga.
É isso, 2011 promete.

Nenhum comentário:

Postar um comentário