"[...] Na istrada do disingano/andei de noite e de dia/inludido percurano/aprendê o qui num sabia [...]" (Elomar Figueira Melo. Desafio - Fragmento do quinto canto: Das violas da morte, do Auto da Catingueira)





quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Oposição, para que te quero

Reproduzido do Blog do Nassif.

Por Gunter Z. - Sampa
O Serra tem esse poder de decidir quem será candidato em 2014? Dica do Quiroga? Há muita torcida por oposição. Pouco usual para um governo com 83-87% de popularidade, mas enquanto há vida há esperança e esta é a última que morre e quem espera sempre alcança.
As pessoas falam sempre que é importante ter oposição competente. Sim, não tem outro jeito para se evitar que um governo crie vícios. Não tem sido uma boa experiência deixar os papéis de vigiar e de se opor para a mídia.
Mas não é para pressupor que essa oposição deva ser só de direita. Precisa também ser de esquerda (não gosto muito desse rótulos, mas são os habituais enfim.) Afinal, há problemas para todo lado.
Centrismo renitente
Eu não vejo o governo atual como de esquerda (centro-E, centro-D são minúcias.) Parece-me apenas o menos direita que o Brasil vivenciou em muito tempo. Por outro lado, também não se vê grande empolgação popular por algo realmente de esquerda (os partidos menores cresceram muito pouco em 2010.) Mas direita estrito senso não lança candidato próprio a presidente há tempos, seu discurso também não empolga quando não é sobre segurança.
Estamos com uma sopa de letrinhas de centro no poder. Alguém tem coragem de avaliar as coligações estaduais das últimas eleições para governador? Teve quase de tudo menos PT+PSDB. Em dois estados DEM e PCdB apoiaram o mesmo governador, se serve de exemplo.
Tirando a óbvia importância de discutir o pré-sal, e algumas questões relevantes levantadas pelo Plínio que soaram utópicas, o que tivemos de debate? O melhorismo em torno de educação, saúde, segurança, infraestrutura, estrutura tributária. A maior parte das decisões a tomar, pelo menos no momento presente, é relativa a gestão, portanto.
Não é que o passado e sinceridade de cada candidato, suas opiniões pessoais e suas redes de apoio tenham sido o único a ser levado em conta pelo eleitor. Mas é que não houve propostas significativamente diferentes entre si. Foi nessa situação que o eleitor teve que escolher entre Dilma, Serra e Marina. Cabe pensar se 2014 será parecido ou diferente.
Seria correto imaginar que temos um povo centrista e que continuaremos tendo um governo centrista e que esse encontro gera grande popularidade? Talvez, vamos saber em abril (primeiras pesquisas de popularidade), mas não só.
Eficiência
Há a questão da competência. Seria possível imaginar o brasileiro médio preferir um competente de esquerda a um ineficiente de direita (e vice-versa)? Talvez também, brasileiro não é famoso por dogmatismo político. (Comentaristas em blogs não vale...)
E o governo é eficiente, mereceu o continuísmo? Aparentemente sim, em mais de um aspecto foi além do eficaz. Brigar com 87% não dá, ainda que alguns jornais tentem. Se houve condições internacionais favoráveis, é o de menos, pois isso foi para todos os países, não foi a todo momento e também houve impactos negativos. O que importa é a taxa de aproveitamento de oportunidades e a capacidade de inovação e resposta. Tivemos ministros que podem ser bem elogiados e que deixarão saudades. De quais outros governos pode-se falar o mesmo?
Uma característica do governo Lula que não é muito comentada é que se trata de um governo pouco turrão, ainda que persistente. A pecha de “autoritarismo” não cola : várias concessões e recuos, cessão de espaços, derrotas no Congresso, discussão com a sociedade, bastante experimentalismo, nenhuma mudança dramática em legislação, ampla liberdade de expressão, oposição judicial.
Então temos : um povo relativamente pouco propenso a ideologias; um país com várias carências onde as propostas são de evolução, não de mudança substantiva; um projeto de poder (PT+PMDB+aliados) dado a flexibilidade; reformas esperadas pela sociedade para fazer; cenário econômico e demográfico favorável. Esperar o continuísmo (novamente) para 2014 é uma aposta muito razoável, não importam os nomes.
Caminhos para Oposição
A história pode dizer que sempre há mudanças, que nada é eterno. Pode dizer que a tendência de longo prazo é para maior presença do Estado mas também que há movimentos pendulares em contrário. Mas não pode determinar em que momento os eleitores substituem as agremiações no comando. A mutação dentro do poder muitas vezes dá o efeito de alternância.
Governos eficientes de centro (ou em torno dele) são um terror para qualquer oposição. Os sociais-democratas na Suécia, os liberais no Japão, os democratas nos EEUU (anos 30-50), outros exemplos na Europa e Ásia de pós-guerra. Podem ser criticados por todos os lados, mas geralmente com pouca contundência. Substituir o centro na ausência de crises não é uma tarefa fácil.
Como isso pode mudar:
- graves erros do governo. Esse é o ponto principal. Os erros para a oposição explorar quando um governo é bem sucedido podem ser de gestão (ineficácia em algo ou ineficiência em muito), pouca inovação e ainda de probidade. (Minha aposta é que Dilma vigiará os vários flancos.) Na ausência de erros do governo ou de sua estagnação em ideias não será o arrivismo (o simples desejo de querer ganhar por achar que merece) que convencerá o eleitorado.
- oposição também eficiente e também flexível. Não sabemos se o PSDB será bem sucedido se travestindo de centro-esquerda, se pequenos partidos crescerão subitamente ou se haverá uma cisão na aliança governista. A questão é que o adversário no poder é centrista e fica difícil escolher por que lado se opor.  Candidatos com ideologia mutante, como Aécio (o país sabe o que o povo quer), Marina (os melhores são o ideal para se governar) e Ciro (qual partido em 2014?) têm chances nesse quadro. Ciro não é tão agregador e outros nomes podem surgir. Mas a última fornada foi cheia de novos governadores eleitos em primeiro turno, quem vai arriscar não se reeleger em seu estado? Os poucos recém reeleitos de agora, pois não será um ano bom para grandes riscos, como os que Serra passou em 2010.
- leque de discursos. Isto é bem importante também. Até agora só vemos gente falando que quer ser oposição, mas sem dizer claramente no quê (e a dificuldade em dizê-lo já ficou clara nas campanhas de Marina e Serra.) Uma alternativa ao governismo atual precisará oferecer boas respostas para coisas às vezes conflitantes. Os quadros de partidos de “direita” nem sempre estão aptos a discursar e oferecer propostas para questões de “esquerda”. E vice-versa. Tem certas coisas que só parecem verossímeis com Lula. Mas, enfim, os que parecem ser os discursos à mão:
....”pela esquerda” : reforma agrária, saúde e educação mais inclusivos e mais próximos aos privados, reforma política, política externa mais independente, direitos humanos, investimentos sociais do Estado, banda larga, estatizações, regulamentação das comunicações, meio-ambiente.
....”pela direita” : redução de impostos, desvalorização cambial, segurança pública, eficiência do Estado, terceirização de funções do Estado, propostas em logística, privatizações, desburocratização, flexibilização do mercado de trabalho, inovação tecnológica.
Material para governo e oposição trabalharem não falta. Votações contraditórias no Congresso não ajudam.

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