"[...] Na istrada do disingano/andei de noite e de dia/inludido percurano/aprendê o qui num sabia [...]" (Elomar Figueira Melo. Desafio - Fragmento do quinto canto: Das violas da morte, do Auto da Catingueira)





sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A estratégia do medo no Rio de Janeiro

Por Ernesto Camelo
 
O carro que não foi queimado e a estratégia do medo

O Rio está vivendo dias difíceis. Soldados do tráfico, em ações pontuais e dispersas, ateiam fogo em carros, vans e ônibus. Nenhum tiro, quase nenhum roubo, poucos feridos. Só o fogo, força devastadora da natureza, com seu imenso poder intimidador.
Cria-se então na cidade um clima de pânico, muitas vezes maior do que os fatos ocorridos.

Na noite de ontem foi divulgado o primeiro ataque registrado em Copacabana, mais exatamente no Bairro Peixoto. Por se tratar de bairro da zona sul e símbolo turístico, a repercussão foi imediata. Por volta de 21 horas os moradores viram fumaça saindo da tampa do motor de um carro. Os bombeiros foram acionados. Em poucos minutos exatos onze veículos das polícias militar, civil e do corpo de bombeiros chegaram ao local. O fogo, que só atingia o motor, foi rapidamente debelado. Pelas características, nada indica que se tratou de um atentado. Nestes, garrafas com gasolina são jogadas no interior dos veículos, atingindo forração e estofamento, de fácil combustão. Por isso, ao final, resta só a carcaça retorcida.
Tudo isso aconteceu a poucos metros de onde moro. O aparato do Estado se fez presente de forma profissional e demonstrando grande coordenação entre as forças envolvidas. Em poucos minutos chegaram, atuaram e se retiraram, deixando apenas um plantão no local por algumas horas.
É necessário que as pessoas que residem fora do Rio entendam que a grande maioria dos cariocas apóia as iniciativas das UPPs, primeira ação pública com resultados efetivos e duradouros para as comunidades e para os moradores do seu entorno.
Há de se confiar no trabalho que está sendo realizado e, mantendo a devida cautela, prosseguir com as atividades do cotidiano. O Estado está cumprindo o seu papel da melhor maneira possível, mobilizando recursos humanos e materiais de forma ilimitada.
O maior inimigo nesse momento é o medo, que deve ficar limitado ao que de real está acontecendo, sem amplificações que só fazem atrapalhar.
A inteligência da polícia identificou a origem das ordens para os ataques, vindas dos líderes do tráfico recolhidos no presídio federal de segurança máxima de Catanduvas no Paraná. Entre os mais notórios, os chefes do Complexo do Alemão e da Penha.
Para se ter uma idéia do tamanho do problema que se enfrenta, segue matéria desta sexta-feira publicada na Folha de SP:
Da Folha
DO RIO
As 22 favelas dos Complexos do Alemão e da Penha se erguem aos pés da serra da Misericórdia, com 45 km2, na zona norte do Rio, e são a principal base da facção criminosa Comando Vermelho.
De acordo com a polícia, o CV controla a venda de drogas em mais de 60 favelas.
Ali fica a sede financeira e bélica do grupo: é onde se concentra o maior acúmulo de armamentos e a maior renda de venda de drogas, de acordo com a polícia.
Policiais dizem que, nas grandes bocas de fumo do Alemão, passam pelo menos R$ 3 milhões em drogas.
Na face sul da serra, um maciço de 260 metros de altura, está o Alemão. Na face norte, o complexo da Penha.
Os números de habitantes são desencontrados, variam de 130 mil a 150 mil pessoas.
Antes da operação, a polícia calculava que existiam cerca de 500 traficantes no local. Agora, ela avalia que o dado está subestimado.
É de lá uma das maiores lideranças do Comando Vermelho, Márcio Nepomuceno dos Santos, o Marcinho VP, transferido ontem para a penitenciária de segurança máxima de Porto Velho (RO).
Dois aliados controlam o Alemão e a Penha. Luciano Martiniano da Silva, o Pezão, é o líder da venda de drogas no Alemão. Fabiano Atanásio da Silva, 34, FB, é chefe do tráfico na Vila Cruzeiro.
A polícia diz que Pezão e FB assassinaram e queimaram o antigo líder do Alemão, Antonio José Ferreira de Souza, o Tota, em setembro de 2008. Era o traficante mais procurado pela polícia do Rio e herdara o comando do tráfico de Elias Maluco, preso depois de chefiar o bando que matou o jornalista Tim Lopes, na Vila Cruzeiro.
FB transformou a favela Vila Cruzeiro em área de difícil acesso para a polícia, com barreiras com trilhos fincados no chão e botijões de gás. Instalou câmeras nas ruas da favela, para monitorar a entrada de policiais.
(PLINIO FRAGA)

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