"[...] Na istrada do disingano/andei de noite e de dia/inludido percurano/aprendê o qui num sabia [...]" (Elomar Figueira Melo. Desafio - Fragmento do quinto canto: Das violas da morte, do Auto da Catingueira)





quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A Irlanda faliu. Quem será o próximo?

A crise econômica europeia se agiganta. Reproduzo a excelente análise de Azenha acerca da terrível crise que acomete a Irlanda.

por Luiz Carlos Azenha (Viomundo)

Depois da Grécia, a Irlanda. Tudo indica que Dilma Rousseff assumirá o poder em meio ao aprofundamento da crise econômica na Europa e à guerra cambial entre Estados Unidos e China, que pode vir a enfraquecer as exportações do motor da economia europeia, a Alemanha.


Ghost estates and broken lives: the human cost of the Irish crash (do britânico Independent)
By Michael Savage in Dublin and Donald Mahoney in Manorhamilton
Wednesday, 17 November 2010
Elas estão vazias por toda a Irlanda: 300 mil casas desocupadas, uma reprimenda silenciosa naqueles que as construiram achando que o boom econômico do país nunca acabaria. Enquanto ministros das finanças europeus trabalhavam em vão para chegar a um acordo sobre como aliviar a miséria econômica da Irlanda na noite de ontem, os assim-chamados imóveis fantasmas eram uma triste lembrança de que a “crise da sobrevivência” sobre a qual os políticos alertavam está em andamento e já atingiu as pessoas comuns.
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Como muitos outros, o sr. O’Hara [um empresário falido do ramo da construção] dirige sua raiva para os bancos, que já foram salvos e parecem destinados a forçar o governo a conseguir mais ajuda dos parceiros europeus da Irlanda. “Todos são responsáveis pelas suas próprias ações, mas o peso está sendo jogado nas pessoas que estão no fim da fila. Na Irlanda neste momento é melhor dever 50 milhões que 50 mil. As pessoas que mais pecaram são as que estão sofrendo menos… [...] Eu perdi a crença e a confiança em nosso sistema”.
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Ireland crisis could cause EU collapse, warns president (do britânico Guardian)
O presidente da União Europeia alertou que a EU poderá desabar a não ser que a crise da dívida enfrentada pela região seja resolvida.
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Com a Irlanda e Portugal ambos à beira de pedir resgate, [Herman] Van Rompuy alertou que há sério risco do contágio se espalhar pelo continente.
“Estamos em uma crise pela sobrevivência”, Van Rompuy disse em um discurso em Bruxelas. “Todos temos de trabalhar juntos para que a zona do euro sobreviva, porque se não sobreviver a União Europeia não sobreviverá”.
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The Real Euro Danger (do Wall Street Journal)
Os ministros das finanças da Europa estão reunidos em Bruxelas tentando convencer a Irlanda a aceitar o resgate de um fundo de estabilização criado depois da crise na Grécia na primavera passada. O discurso convencional, repetido em todo lugar na Europa esta semana, é de que é necessário “estabilizar os mercados” e evitar “contágio”.
Mas o principal problema da zona do euro não é “contágio”. É solvência. Salvar a Irlanda não torna mais provável que Portugal ou a Espanha ou mesmo a França sejam mais capazes de pagar suas dívidas no futuro.
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David McWilliams: ECB bailout is the only card we have left to play (do Independent irlandês, recomendo para quem quiser se aprofundar)
By David McWilliams
Wednesday November 17 2010
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Só ajuda maciça do Banco Central Europeu vai acabar de vez com a perspectiva de uma corrida aos bancos na Irlanda. Somente uma grande transferência de dinheiro do banco central — o equivalente econômico de uma transfusão de sangue — pode estabilizar o paciente.
É altamente frustrante ver o governo fazendo política com algo tão fundamental quanto a poupança das pessoas.
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Por que o Banco Central Europeu nos salvaria? Certamente, se fosse racional deveria se afastar da confusão financeira na Irlanda? Mas não pode. O Banco Central Europeu é parte do problema. Presidiu sobre os gigantescos empréstimos de bancos alemães e franceses a bancos irlandeses, portugueses, espanhóis e gregos.
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Se olharmos mais profundamente [nos números] veremos que o Banco Central Europeu emprestou um total de 516 bilhões de euros a bancos comerciais de toda a zona do euro. O banco central da Irlanda emprestou 165 bilhões a bancos baseados aqui. (Nosso PIB para 2010 é estimado em 155 bilhões de euros). Assim, de todo o dinheiro emprestado a bancos na zona do euro, 31% foi para bancos baseados na Irlanda.
O que isso nos diz?
Que o sistema bancário da Irlanda está quebrado. Mas, mais importante, que a quantidade de dinheiro que está passando pelos livros de nosso banco central é completamente insustentável para um país de nosso tamanho.

PS do Viomundo: A relutância dos irlandeses em aceitar a ajuda deriva do fato de que haverá “condicionalidades”. Tudo indica que o país será amigavelmente forçado a aumentar os impostos sobre as corporações, que é o mais baixo da Europa, reduzindo assim a entrada de capital estrangeiro na Irlanda e aprofundando a recessão.

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